A vida é um plano-sequência, mas a percepção que temos do mundo é fragmentada! Este é um espaço para a reflexão sobre a influência mútua do cinema em nossas vidas e vice-versa.

sábado, 2 de julho de 2011

Filmes de Amizade

           É meus druguinhos, chegamos ao mês de Julho. Este ano o inverno chegou arrepiando, principalmente aqui em Londrina, a cidade da neblina. Não para de chover e dá tristeza só de pensar em sair de casa. Mas como eu estou desempregado, não preciso enfrentar essa tristeza, por enquanto. É até por isso que resolvi montar este blog onde pretendo disponibilizar, além de textos acadêmicos (que alguns hão de criticá-los por serem maçantes), algumas reflexões, palpites e até homenagens, como é o caso deste que vos escrevo agora.
            Estatisticamente, Julho é o mês em que as pessoas mais assistem filmes, isso porque, no friozinho, não tem nada melhor do que ficar tranquilão debaixo das cobertas e diante da TV. Na verdade eu to brincando, moçada, nunca vi nenhuma estatística sobre isso, mas até acredito que possa ser verdade.
            Julho é também o mês da Amizade (e isso é sério), alguém sabia disso? Duvido. É uma daquelas datas que alguns até sabem que existe, mas que ninguém lembra. Ou vais dizer que isso é comum: “-Bom dia meu amigo, meus parabéns. –Ora, por quê?. – Ora, porque hoje é o Dia da Amizade, 20 de Julho”. Nunca vi isso acontecer e também nunca ganhei presente nesta data.
            Então, em homenagem a não-comprovada estatística de que as pessoas assistem mais filmes no mês de Julho e também para homenagear o mês que é o mês da amizade, mas que ninguém lembra, ou pouco se importa, enfim, para celebrar este mês, arrolarei sobre filmes cuja narrativa enfatiza o sentimento de amizade entre os personagens. Aliás, quem nunca chegou ao final de um filme pensando “Poxa vida, queria viver uma história de amizade como essa!”? Eu nunca. Afinal, eu sou um cara popular, descolado e tenho muitos amigos (rs). Mas confesso que alguns filmes têm o dom de mostrar a amizade como uma coisa fantástica, e isso é muito legal.
            Farei a apresentação dos filmes no estilo TopTop da MTV. Só que ao invés de 10, mencionarei apenas 3 filmes, explicando o porquê de cada um merecer destaque como filme icônico de amizade. Vamos então ao primeiro ícone da amizade:
            Uma amizade digna de ser mencionada aqui é a de Bill S. Preston (Alex Winter) e Theodore Logan (Keanu Reeves), dos filmes Bill e Ted: uma aventura fantástica (1989) e Bill e Ted: dois loucos no tempo (1991). Juntos eles são: OS GARANHÕES SELVAGENS. Os caras viajam no tempo, arrumam “garotas históricas” do período medieval para serem suas namoradas; eles bebem e jogam cartas e ainda por cima arrumam briga numa taverna estilo “velho-oeste”; além de trazer para o presente grandes figuras históricas como Gengis Khan e Joana d’Arc para ajudar na apresentação do trabalho de história no colégio. E essa é apenas a primeira parte da aventura.
            No segundo filme eles morrem, sabotam a “A morte”, voltam à vida, constroem robôs do bem para destruir os robôs do mal que os mataram, aprendem a tocar guitarra, fazem um show espetacular e viram astros do rock. Vocês devem estar se perguntando como eles conseguiram sabotar a Dona Morte. Fácil. Na primeira vez que ela veio buscar suas almas, eles simplesmente aplicaram-lhe um cuecão (conhecido também como Thor ou chazão). Na segunda vez o jogo foi limpo. Eles apostaram e ganharam da Dona Morte, jogando batalha naval, detetive entre outros jogos que foram escolhidos na “melhor de 7” que salvou suas almas. Caso perdessem teriam de ficar no inferno por toda eternidade.
            Enfim, eles estiveram juntos no céu e no inferno e viajaram juntos pelo tempo, mas isso não é grande coisa. O que conta mesmo é que tem que ser muito chapa para aturar um amigo olhando para o decote da sua madrasta, em meio a uma sessão espírita, onde vocês dois são os fantasmas que serão exorcizados. Por isso o terceiro lugar está reservado para os amigões Bill e Ted.

         Outra grande amizade é entre Dersu e o “Capitaaain”. Dersu Uzala (1975) é um filme do diretor japonês Akira Kurosawa, que conta a estória da amizade entre um caçador que vive na floresta e um capitão de um grupo de exploradores e topógrafos. A preocupação de Dersu com a natureza, o meio ambiente, e com a vida de outros exploradores que se aventuram na floresta, surpreende e intriga o capitão. Suas técnicas de caça, sobrevivência e todo o seu conhecimento sobre a floresta faz com que o capitão tome Dersu como seu guia. Nasce assim o que, em minha opinião, é uma das maiores histórias de amizade e choque de culturas já feitas no cinema.
            No período em que o capitão permanece com o seu grupo na floresta, sua vida e a de seu bando estão sempre sob os cuidados e a sabedoria de Dersu. Mas num determinado ponto da estória os papéis se invertem. Dersu já bastante idoso, começa a perder sua visão, ficando impossibilitado de manter sua sobrevivência como caçador. O capitão sugere, então, que Dersu passe a viver aos seus cuidados, morando com ele e sua família na cidade. O estranhamento de Dersu é demarcado pela sua incapacidade em se adaptar a essa nova realidade. Esse choque cultural é uma das notáveis facetas do filme, mas não é exatamente a que nos interessa aqui.
            A intensidade da amizade entre os dois personagens, de culturas e hábitos tão distantes, se materializa nas cenas de despedida e subseqüente cena de reencontro após 3 anos. Ao término da primeira expedição, e após ter sido salvo pelo amigo, o capitão se despede de Dersu. O efeito criado pela montagem na qual Dersu caminha pela neve de volta para a floresta enquanto o capitão parte com a sua tropa, é magnífica. Alguns segundos depois o capitão se vira e grita o nome de Dersu, que o responde gritando “Capitaaain”. Não existe diálogo algum nessa cena, mas o sentido mútuo de gratidão e empatia é revelado de forma visceral. Três anos mais tarde o capitão volta para a floresta e acaba reencontrando Dersu. A cena é emocionante e, por isso, o filme Dersu Uzala merece o nosso segundo lugar como filme que traz a maior estória de amizade do cinema. Isso porque, não é qualquer amigo que constrói uma cabana de folhagens para você não morrer de frio. Vamos combinar também que não é qualquer sujeito que arrasta um caçador asiático para morar junto com a sua família e fazer fogueiras em seu quintal.
 
             Para finalizar este post, mencionarei o terceiro e último filme que me vem à memória quando o tema é amizade: não pode ser outro (ou até pode, mas no momento só lembro desse) senão Um Sonho de Liberdade. A amizade de Andy (Tim Robbins) e Red (Morgan Freeman), ambos presidiários, também aborda o tema da amizade pelo viés da ajuda mútua pela sobrevivência. Andy é um presidiário inocente que, condenado a muitos anos de prisão, decide por bolar um plano de fuga. Plano que jamais poderia ter sido concretizado sem a ajuda de seu amigo Red.
            Apesar de Red tê-lo ajudado com a fuga, ele não sabia que Andy estava mesmo planejando fugir da prisão. Nos vários anos que passaram juntos na cadeia, Andy jamais havia falado claramente sobre o seu plano. Um dia Andy simplesmente sumiu de sua cela. A única pista que havia deixado para o amigo antes de “evaporar” foi pedindo para que Red fosse procurar por “algo” no mesmo local onde Andy havia pedido sua mulher em casamento. Red só compreendeu o fato anos mais tarde, depois de sair da prisão e procurar o tal local que o amigo havia indicado. Red encontra uma carta que revela não só o seu paradeiro como também serve de dispositivo narrativo para mostrar ao espectador o desenlace da trama.
        Sendo assim, o primeiro lugar do premio de maior amizade do cinema vai para Um Sonho de Liberdade. Afinal, surpreender o seu amigo que acabou de sair da prisão após ter cumprido 30 anos de reclusão - e que, inclusive, pensa seriamente em dar cabo da própria vida, por já não encontrar sentido na rotina fora da cadeia – com um envelope cheio de dólares e um convite para viver numa praia paradisíaca, é algo que não acontece todos os dias.
 
            Outros bons filmes também poderiam ter sido mencionados tais como Forrest Gump: o contador de histórias (1994), para falar da amizade de Forrest e Bubba, ou Forrest e o Tenente Dan. Ou mesmo a belíssima animação Mary and Max (2009). Ou até mesmo esta recente produção, que tem como protagonista o ainda galã (embora já esteja ficando com cara de vovô) Richard Gere. O filme Sempre ao seu Lado (2009) ilustra a grande amizade que nasce entre um cão e seu dono. O cão, mesmo depois que o seu dono morre, continua indo na estação de trem, na esperança de que o seu dono volte para casa.
            Filmes de amigos que fazem “dupla dinâmica” têm aos montes, é verdade. Alguns exemplos são: Quanto mais idiota melhor (1992) ou Debi e Loide (1994) ou mesmo Kevin and Perry (2000), mas em minha opinião nenhum deles bate os malucos Bill e Ted. Há quem critique a ternura e afetuosidade da estória de Dersu e o Capitain por parecer uma amizade um pouco “melosa”. Mas notem que eu nem mencionei O caçador de Pipas ou Brokeblack Mountain. 

Por Harold

4 comentários:

  1. O meu irmão ganha presentes no dia 20 de julho rsrsrs, é o aniversário dele!

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  2. Pow, é amanhã então..kkk. Certeza que ele vai comprar um wiskey de 1000 dólares e tomar sozinho.

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